ORGANIZAÇÃO E CONFORTO NA SALA DE AULA
ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A REORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM
ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A REORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM
Glorismar Gomes da Silva
Windyz B. Ferreira
RESUMO
Este artigo apresenta o estudo
exploratório que têm como foco a organização e conforto ambiental dos espaços
de aprendizagem. Nosso objetivo é demonstrar a importância deste tema no âmbito
dos debates e estudos sobre a educação inclusiva porque a mudança da organização
convencional da sala de aula e outros espaços educativos tanto favorece uma
prática pedagógica inclusiva como aproxima os estudantes por meio de parcerias
e colaboração. Os dados foram colhidos em duas escolas entre 2011-2012 e de um
grupo de 32 professoras que eram estudantes do Curso de Pedagogia na modalidade
à distância (com o foco na educação infantil) da Universidade Federal Paraíba
em 2012. Os achados de nosso estudo,
desenvolvido em duas escolas publicas, revelam que as mudanças dos ambientes
com vista ao desenvolvimento da organização e conforto na sala de aula não
estão previstas no Projeto Pedagógico da Escola e, em geral, não são pensadas
ou planejadas previamente pela gestão e pelos professores/as. Dessa forma,
nesta comunicação, argumentamos que o tema organização e conforto nos espaços
escolares precisa ser, urgentemente, introduzido na pauta dos estudos sobre
formação de professores, práticas pedagógicas e políticas públicas de inclusão.
Palavras chaves: organização e conforto, ambientes escolares,
política escolar, inclusão.
ABSTRACT
This paper presents the
exploratory study that is focused on the organization and comfort in the
classroom as well as in the school infrastructure. It aims to show the
importance of this theme within the field of inclusive education because
changes in the classroom help to promote inclusive practices and it bring
students closer by means of collaborative work and partnerships. The data has
been collected in two schools, between 2011-2012 and, from a group of 32
teachers enrolled in the Distance Learning Graduation Course of Pedagogy (with
the focus on Infant Education) at the Federal University of Paraíba in 2012.
Findings shows that changes towards organization and comfort in pre-schools are
not yet at the core agenda of the local educational authority neither is at the
agenda of school management team, that is, is part of the School Planning. In
general, these themes are not a concern for the school community. Therefore, in
this communication, we argue that the theme of organization and comfort in
learning settings has to be urgently included in the core agenda of inclusive
education in regards to teacher training program, pedagogy and public policy
for inclusion.
Keywords: classroom organization and comfort, schools settings,
school policy for inclusion.
Acesse o artigo completo:
A ESCOLARIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM FLP: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
(Dissertação de mestrado defendida na UFRN em 2002 e
apresentada no 1º Congresso Internacional “Ser professor de Educação Especial”
em Portugal, 2009 e publicado no site webartigos.com em dez. de 2009).
Autora: Glorismar
Gomes da Silva
Introdução
O objetivo desse texto é trazer a tona e investigar o contexto escolar
de crianças que nascem com Fissura Lábio Palatal e a sua experiência como
alunos de classe do ensino fundamental em escolas públicas, frente às
exigências do cotidiano escolar.
Sabemos que, embora as fissuras faciais sejam comuns de acontecer na
população de um modo geral, a exploração e os estudos sobre o tema ainda se
centram nos procedimentos cirúrgicos e de reabilitação. Diante disto,
encontramos dificuldades de encontrar, no meio acadêmico, na literatura e em
estudos, conteúdos relativos aos aspectos educacionais dessas pessoas. A
escassez de materiais sobre o assunto foi um dos motivos que nos levou a
estudar sobre as malformações orofaciais, dentro de uma perspectiva
educacional.
Merece atenção especial a entrada da criança com fissura na escola, pois
representa o primeiro e mais importante ambiente extra familiar, ou seja, de
maior influência na sua vida, em que ela será alvo de julgamentos e avaliações,
tendo em vista que “nossas escolas refletem valores sociais onde considerável
ênfase é colocada na aparência física normal e em habilidades verbais”
(ALTMANN, 1994, p. 504).
O que é Fissura Lábio Palatal?
A FLP[1]
é uma má-formação congênita que afeta a região facial, particularmente o
funcionamento da musculatura orofacial e da articulação da boca e nariz. A
fenda existente coloca em comunicação as regiões oral e nasal e, como
conseqüência, provoca o escape de ar pelo nariz e voz nasalizada.
As
fissuras podem ser unilaterais ou bilaterais e variam desde formas mais leves,
como pequena abertura no lábio ou úvula bífida, até formas mais graves como as
fissuras completas que atinge o lábio e o palato. Podem ocorrer fissuras
atípicas que envolvem outras áreas além do lábio superior e palato, como a
região oral, nasal, ocular e craniana.
As
pesquisas apontam sobre as causas das fissuras como sendo pela combinação de
fatores genéticos e ambientais. O fator genético que pode ser herdado dos pais
e os ambientais como, o uso do álcool ou cigarro; fatores nutricionais (deficiência de vitamina B12,
tiamina, ácido fólico e a hipervitaminose), exposição a raios X na região
abdominal; ingestão de anti-convulsivante ou corticóide, durante o primeiro
trimestre de gestação.
Em relação à freqüência das FLP, estudos recentes no Brasil apontam para
uma incidência de um para cada 650 nascidos vivos (NAGEM FILHO et al., apud VARANDAS, 1995). O tipo
de fissura mais comum é a de lábio e palato do lado esquerdo, sendo este tipo
mais frequente no sexo masculino e a fissura somente de palato no sexo
feminino.
O tratamento das fissuras de lábio e palato requer a colaboração de uma
equipe multi e inter-profissional, tendo em vista a diversidade das fissuras e
suas implicações de ordem emocional e psicológica, freqüentes nas pessoas com
fissuras e em suas famílias. Neste processo de reabilitação, as cirurgias
reparadoras são as primeiras e as mais complexas abordagens terapêuticas, as
quais objetivam a restauração do complexo maxilo-facial, de forma a torná-lo o
mais normal possível em termos de função e estética. Desse modo, o período e as
seqüências ou etapas das cirurgias a serem realizadas podem variar de acordo
com o estado clínico geral, o tipo de fissura, bem como a idade de cada pessoa.
Acriança com fissura e a escola
Como mencionamos, a escola é o primeiro espaço fora da casa da criança,
onde ela inevitavelmente ficará exposta, colocando a prova suas habilidades
intelectuais, físicas e orais. O fato da existência da FLP ou da sua cicatriz
de reparação, deixando-a, portanto, com a face de certa forma ainda
transfigurada e a voz alterada (nasalizada), aliado a falta de conhecimento dos
professores e da comunidade escolar como um todo acerca da fissura de lábio e/ou
palato e a não compreensão da fala da criança, poderá gerar no aluno sentimentos
de insegurança e incapacidade, inibição em se expor em público, e até, certo
isolamento social.
Contudo, é importante ressaltar que o aluno com FLP não apresenta
empecilho ou impedimentos em sua interação com a escola e em seu processo de
ensino-aprendizagem. No entanto, para que haja um ambiente de interação e
aprendizado satisfatório é preciso criar espaços mais agradável e amistoso e um
ambiente de aprendizado na escola, onde a criança possa assimilar os conteúdos
formais e não formais, com menos angústia, constrangimentos e estresse.
Metodologia: como realizamos as observações
Observamos a realidade vivenciada nas escolas de forma assistemática, ou
seja, de maneira informal, sem controle ou instrumental específico, na escola
ou dentro da classe (onde ficávamos nas últimas carteiras ou na primeira fila,
de acordo com o tamanho e distribuição das carteiras na sala), observando a
classe e fazendo anotações no caderno, assim como na escola, durante a hora do
intervalo e nas aulas de Educação Física.
Entrevistamos mães, alunos, professores e diretores e analisamos documentos
escolares, tais como, trabalhos, avaliações e boletins escolares dos alunos. As
entrevistas realizadas foram do tipo semi-estruturada, constando de uma série
de perguntas abertas e fechadas. As entrevistas com os alunos, aconteceram em
suas próprias residências, com objetivo, também, de deixá-los mais à vontade
para responder às questões, porque sabíamos, de antemão, que iríamos provocar
algum embaraço ou constrangimento, por se tratar de uma atividade que iria
expor sua verbalização e por sermos, ainda, desconhecidas para a maioria deles.
Procuramos analisar a situação vivenciada por cinco crianças e adolescentes
com FLP, na faixa etária de dez a quatorze anos, matriculados no ensino
fundamental e médio, em escolas públicas na cidade de João Pessoa, PB. O motivo
maior pela opção por essa cidade foi o de possuir um serviço de reabilitação
multiprofissional, denominado Núcleo de Reabilitação de Fissuras Labiopalatinas
(NUCLEOFIS) do Hospital Universitário Lauro Wanderley – UFPB, onde existe um
grande número de pessoas com esse tipo de má-formação (cerca de 1.040
pacientes, até 06 de agosto de 2002) cadastradas e atendidas.
Resultados
Dos cinco alunos observados, quatro são do sexo masculino e um do sexo
feminino (dado que reforça os estudos sobre a maior incidência das FLP em
pessoas do sexo masculino). O tipo de fissura que se mostrou mais freqüente,
entre os entrevistados, foi a FLP do lado esquerdo apresentando-se em quatro
dos cinco alunos.
Todos os alunos da pesquisa se submeteram a, pelo menos, uma cirurgia,
sendo que um aluno realizou apenas uma cirurgia - a de fechamento do lábio –
possuindo ainda o palato (ou, como é comumente denominado, o “céu da boca”)
completamente aberto. Os demais alunos realizaram uma média de três a quatro
cirurgias e um aluno chegou a realizar dez cirurgias.
Com relação à escolarização dos pesquisados, existe um baixo nível de
escolaridade dos alunos, se comparado com suas respectivas idades, uma vez que
quatro, dos cinco alunos observados, não terminaram o segundo ciclo do ensino
fundamental, ou seja, estes alunos estão em idade entre 10 e 13 anos e não
terminaram ainda a antiga 4ª série do ensino fundamental. Apenas um aluno, que
tem 14 anos, se encontra na 7ª série do ensino fundamental, havendo, portanto,
compatibilidade idade/série.
Quatro alunos citaram apenas um nome de colega com quem mais brincava e
um aluno não citou nenhum nome. Em geral as pessoas com FLP têm mais
dificuldades em estabelecer amizades, percebemos com os relatos que as amizades se concentram mais em duas bases, ou estão
na escola, mais precisamente dentro da sua própria classe e, portanto as
brincadeiras ou conversas se limitam mais às questões concernentes à escola, ou
estão em casa mesmo, no seu meio familiar.
Percebemos que esses alunos apresentam dificuldades na interação verbal
com as pessoas a sua volta. Porém, a maioria dos alunos respondeu que se sente
à vontade na hora de falar na classe. Mas constatamos através das observações
realizadas, que eles pouco falam em classe e, principalmente com a professora,
eles pouco interagem. Assim, camuflam a realidade, talvez por não quererem se
expor tanto ou por timidez.
Opiniões dos Professores
Sete professores foram entrevistados, pelo menos quatro professores
apontaram o aluno com FLP como sendo uma criança ou jovem que fala pouco, em
função da presença da voz nasalizada, e que isso o torna mais reservado, porém,
mesmo assim, a maioria não relaciona as dificuldades de aprendizagem com a presença
das sequelas das fissuras. Os professores também colocaram as seguintes
opiniões:
[ Percebem a dificuldade inicial do aluno com a comunicação e interação.
[ Essa dificuldade pode refletir no processo de ensino aprendizagem.
[ Relataram a falta de conhecimento e de informações sobre essas
malformações.
[ Conseguem intuitivamente satisfazer às necessidades dos alunos.
[ As relações com os membros da escola ficam prejudicadas pelo
comportamento mais reservado.
Algumas considerações
As
questões que envolvem as pessoas que apresentam a má-formação labiopalatal ou
suas sequelas são abrangentes, como pudemos perceber. Suas famílias, por sua
vez, também são bastante afetadas, pois sofrem ao se depararem com uma situação
para a qual não estão preparadas.
Estamos
cientes de que o papel da escola é de fornecer toda estrutura física e
profissional de forma que seja capaz de atender todas as crianças e jovens,
independentemente de suas condições sócio econômico, etnia, preferências
religiosas e sexuais, diferenças físicas, cognitivas e pessoais.
Destacaríamos alguns pontos relevantes dos achados
da pesquisa:
[ Os alunos/as apresentam sérias dificuldades nas áreas afetivo, psicológico,
social e educacional.
[ As famílias sofrem por se depararem com uma situação não esperada.
[ A fase escolar é a principal e mais difícil etapa pela qual passam
esses alunos porque a escola é o local onde expõe sua maior dificuldade: a
fala.
[ A ignorância da comunidade escolar sobre as fissuras e suas implicações
anatômico funcionais e educacionais.
[ A escola acolhe o aluno sem discriminação ou paternalismo, porém não
desenvolve estratégias para assegurar a permanência e sucesso escolar do mesmo.
[ Os alunos são percebidos como tendo plena capacidade de crescimento
pessoal e de evolução nos seus estudos.
Referências e fontes
ALTMANN, E. B. C. Fissuras labiopalatinas.
Carapicuíba, Pró-Fono Departamento Editorial, 1994.
CONFERÊNCIA mundial sobre necessidades educativas
especiais: acesso e qualidade. Salamanca, Espanha: UNESCO, 1994
GRACIANO, M. I. G. Conhecimento sobre as
má-formações congênitas labiopalatais: um quadro geral de orientação à
prática do serviço social. Serviço
Social e Realidade. Franca, V. 7, n.2: 1998.
LOFIEGO, J. L. Fissura labiopalatal: avaliação,
diagnóstico e tratamento fonoaudiológico. Rio de Janeiro: Revinter Ltda,
1992.
MOORE, K. & PERSAUD, T.V.N. Embriologia
Clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2000.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho
Científico. 18. ed. São Paulo: Cortez, 1992.
SILVA, G.G. Fissura labiopalatal: abordagem
fisioterápica no tratamento dos órgãos fonoarticulatórios. 1993. Monografia de
conclusão do curso de graduação em fisioterapia.
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1993.
[1] FLP:
Fissura Lábio Palatal.
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